25 janeiro 2013

SOUL (relato)



unpleasant thing to see when you still have 5 more rappels left!
core shot while descending from "Voie Des Benetièrs", El Mocho - El Chalten

23 janeiro 2013

A Primeira Gelada em Chalten - (relato)




Há pelo menos seis anos tenho passado meus verões do hemisfério Sul na Patagônia. E, honestamente, nunca vi tempo tão bom e tanto calor como nestas últimas duas semanas. El Chaltén está "pegando fogo", cumes no cordão do Fitz e do Torre são escalados todos os dias e eu, evito a todo custo olhar a previsão do tempo para não "morrer de raiva"! Pois meu tempo de escalar em Chaltén terminou dia 01 de Janeiro, quando tive que voltar para trabalhar na Patagônia Chilena. 
Mas, mesmo não tendo boas condições para escalada em rocha e o melhor clima em Dezembro, eu aproveitei muito e tive experiências memoráveis. A primeira delas foi a escalada no Cerro Pollone.


Olhando para a Supercanaleta, Glaciar Fitz Roy

Foi voltando da escalada no Cerro Pollone que o canadense Maz Fisher, meu colega de trabalho, bateu esta foto.
Eu vinha caminhando pelo glaciar em um estado quase de transe, deixando-me absorver totalmente pela grandiosidade do lugar e do momento. Quando começamos a descer a via, Max falou que íamos parar somente na base da "Afanassief". Então, eu vinha caminhando no modo "automático". Parei na metade do glaciar para conversar glaciar para conversar com dois escaladores que estavam sentados, comendo, debaixo de uma pequena nevada que caía. Achei curioso ver aqueles dois rapazes muito tranquilos ali, contemplando a paisagem. Senti uma profunda paz em somente observar aquela cena e alguma ansiedade que ainda existia dentro me mim, se dissipou. Eles perguntaram de onde nós vínhamos e como era o caminho para descer para o Glaciar Torre pelo "Paso Del Hombre Sentado". Um deles era o Merlin Didier (com quem escalaria algumas semanas depois) e o outro, era o Stéphane Hanssens, ambos da Bélgica. 

Apesar de não gostar muito de escalar em neve em terreno inclinado e em gelo, a escalada do Cerro Pollone foi simplesmente fenomenal. Obviamente, esta realização somente veio dias após a escalada. Quando escalo este tipo de via me sinto muito desafiada física, mental e emocionalmente. Tenho que fazer um esforço para me manter em equilíbrio e auto-controle para não deixar que minha insegurança, desconforto e minha pobre competência neste tipo de terreno roube minha energia. Pois sei que, mesmo não gostando, eu amo escalar montanhas e sei que tenho que poupar energia para descer ou lidar com qualquer outro tipo de situação emergencial.

A aproximação para o Cerro Pollone é uma caminhada longa e linda. Desde Rio Elétrico para Piedra del Fraile, depois para Piedras Negras, depois para Paso Del Cuadrado e, depois mais 5 kilômetros noroeste no Glaciar Fitz Roy para a base da via no Cerro Pollone. Não sei quantos kilomêtros são ao total, talvez entre 17 a 20km.  Dormimos em Piedras Negras e no dia seguinte caminhamos, escalamos e voltamos. Uma outra boa opção seria dormir na base da "Afanassief" e caminhar somente os 5 km no glaciar.

A via "Cara Sur", 400m, 4, 65˚ começa em uma rampa de neve/gelo e cruza um bergschrund, que estava bastante coberto, pois, toda a montanha tinha muita neve! Depois segue por um couloir de gelo de 65˚-70˚. Tive bastante medo de cair e derrubar o Max, já que ele estava guiando este trecho. Pedi para ele fazer esticões, ao invés de continuarmos em simultâneo. A qualidade do gelo me lembrava uma escalada que tinha feito meses antes em Idaho, no Borah Peak, com um amigo, Frank Preston. Quando fincava meus piolets no gelo, um pedaço grande de gelo rompia e caía em cima de mim, aumentando minha insegurança. Claro que as experiências que tenho tido em gelo e neve nos últimos 4 anos aumentaram significativamente o meu nível de conforto, especialmente em Borah Peak (Idaho), North Ridge of Mount Baker (North Cascades, WA), Fremont Peak e, Gannett Peak (Wind Rivers Range, WY), Face Sul do Cerro Meliquina (Patagonia, Chile). Lembrava que já sabia o que fazer e tentava ficar mais tranquila e mais concentrada.

Nos trechos mais inclinados o gelo era exposto e nas outras partes a neve era tanta (no nível da coxa) que dificultava e tornava lenta nossa progressão. Eu sugeri, então guiar as partes mais cansativas e o Max, as partes mais técnicas.

"Cara Sur"- Cerro Pollone. Glaciar Torre atrás.

O tempo não estava estável. A visibilidade era o que mais comprometia a escalada. Muitas vezes, esperávamos por uma brecha onde pudéssemos ver alguma coisa na nossa frente.
Paramos mais ou menos na metade da via para comer um pouco e, esperar por visibilidade. Sugeri que esperássemos uns 30 minutos e, então, decidiríamos. Mas, estava frio e, passados 15 minutos, eu falei para o Max que eu ia continuar guiando e passar o outro bergschrund para tentar ver alguma coisa mais para cima.
Queria chegar ao cume e descer. Subi e fiz uma travessia em gelo para a esquerda até um bloco de pedra. As nuvens estavam chegando e eu escalava rápido querendo ver o que tinha para cima. Cheguei a tempo de ver mais ou menos a linha da via e, o tempo fechou. Fiz a segurança para o Max daquele bloco e quando ele chegou pensamos um pouco no que fazer. Ele tomou a mesma atitude que eu tive e disse: "Mita, eu vou escalando por uns 15 minutos ou até o meio da corda, e então, a gente avalia a situação novamente". Eu concordei. 
Não se enxergava absolutamente nada, mas já tínhamos visto que este trecho da escalada nem era neve, nem era gelo, era rime ice, ás vezes hard, outras vezes soft! Ou seja, um pouco mais complicado de escalar, especialmente para proteger devido à fragilidade do gelo.

Max fazendo minha segurança na parte de rime ice.

Enquanto o Max escalava em total whiteout, começou a ventar mais forte e as rajadas de neve no meu rosto me fazia ficar de cabeça abaixada. De repente, olho para cima para ver a progressão e vejo uma brecha de céu azul e toda a parede e o col para o cume! Falo: "Max, olha para cima!". Ele estava tão envolvido com a escalada que nem tinha se dado conta. 
Aquilo recarregou nossos ânimos e esperança em concluir a via. Uma vez que eu fui subindo o vento aumentou e, consequentemente, o frio também. Foram dois esticões em rime ice, sendo o último uma travessia para o saddle antes do cume. O Max estava entusiasmado com a escalada e enquanto dava segurança batia fotos do visual que estava atrás de nós: a incrível parede do Piergiorgio! 
Mas, quando eu cheguei na ancoragem, o vento já estava bem pior, o frio muito maior e, novamente a visibilidade nos afetava. Desta vez, não tínhamos muito tempo para esperar, pois ali, estávamos muito expostos. Em uma pequena brecha de visibilidade que tivemos, vimos o último esticão que nos restava para o cume: a rocha completamente coberta de rime e gelo! Avaliamos que nos tomaria pelo menos mais de uma hora para chegar ao cume. Eram quase 3 da tarde e decidimos começar os rapéis antes que o vento e visibilidade piorassem. 
Dias depois, conversando com o Colin Haley, ele me disse que não há segunda repetição desta via. E que ele mesmo já tinha solado esta via, mas não pôde fazer o cume também. 
Isto é El Chalten! Tão perto e tão longe! E, sobretudo, tão mágico!


A última travessia em rime ice. Piergiorgio Peak atrás! Lindo!




09 janeiro 2013

The Last Month of 2012 - Pain and Love (relato)


In my last post, there was anger and aggressiveness. And personally, anger is by far the easiest emotion to express.
But, yes, I get angry and sometimes I get aggressive;
I get sad and sometimes I feel lost.
I get happy and many times fulfilled.

I also feel pain. I am talking about those kinds of inner pains. Very uncomfortable ones which make you think: "Really? this sucks!"

Last month I went back to El Chalten. At the beginning of my trip, Chalten was quite painful.

I remember the first time I went there in 2006. I went by myself after a personal climbing in Cerro Tronador, Argentina. I took a bus from Bariloche and I had only 5 days. Time only for a hike to the "Senderos" and "Lagunas" and a couple of sport routes in town with a climber from Spain.

In 2007, I was already dating Bernardo (who became my partner for the next 3 years). That year we had decided to spend our vacations in El Frey for a whole month. But then I talked with him about El Chalten, how wonderful it was and how he will love it!.  So, we planned to spend only 15 days there. Not knowing that 15 days was very little time for such mountains!

When we arrived in Chalten, the weather was very nasty. We could not see the mountains at all for 3 or 4 days. We were completely disappointed. On one of those nasty days, we went to "Mirador Fitz Roy". When we got there, the sky cleared out and he finally saw Fitz Roy's range for the first time. He fell in love with those mountains. That year we climbed only the "Anglo-Americana" route in Aguja Rafael Juarez. Bernardo went back to El Chalten the following years: 2008, 2009, 2010. In jan3rd of 2011, he fell while rappelling the "Afanassief " route. He was left in a ledge about 35 pitches up, while his partner went down in a desperate and epic descent for rescue. The rescuers could not go due to the weather conditions and his body had never appeared again since then.

As soon as I knew about the accident I flew there in order to give support to my friend who was climbing Fitz Roy with him and also to make a ceremony for him.  It was definitely a hard and devastating time for all of us: friends and family.

To go back to El Chalten was a conscious decision to make myself exposed to pain, love, anger, sadness, enchantment, happiness, dreams, and hope at the same time. All of these emotions together can be overwhelming. And it was, sometimes. But it was what I wanted. I think it was what I needed. 

I am not sure what has been the biggest lesson of my life, but as I am getting older (and with more grey hair!) I am paying attention that I have been learning a lot from just let go and detachment. 
It was never easy. Especially when I need to let go of emotions and patterns of behaviors or ego needs. I mean, a person needs to let things go only if she or he is aware of how those specific things affect "negatively" her life. 

Well, there is a lot going on here. What is negative? what is constructive? What is positive?

This is all relative and subjective. And it only makes sense if you care about this. If you don`t care, it will be probably easier. Unfortunately, it is not the way it happens to me. I wish I could be "blind" or do no care about the energy of my surroundings and how I have been using my energy in the environment I choose to be part of. Sometimes I wished to be less aware of things. Well, that is not what is happening to me, I am becoming more sensitive and I usually look at the world with a peripheral vision, even when I am too focused on something particularly.

It was very important to be back in such a magical place. It was important to touch Fitz Roy`s rock, even when they were frozen! It was important to make great connections with people from all over the world. It was important to feel again how wonderful is to climb incredible granite cracks until I get very tired. It was important to trust people whom I had never climbed before and make myself reliable for them as well.

The reality is that I had a great time in El Chalten! I feel so fortunate in having the opportunity to live in the present moment and do not let the Past or the Future take over my days in El Chalten.

I think the idea of writing this post comes from the understanding of letting the emotions pass through my body. I cannot let things get stuck in my mind or my "bla, bla bla" mental process. It is too draining!

I know I need to allow the energy to pass through me. Is just like an orgasm. Which energy we have is stronger or more powerful than sexual energy? I don`t know.
So, I will not resist anything.

It can be anger. It can be sadness. It can be happiness or joy. It can be love.

I need to let pass through my body, breathe and enjoy what life presents to me. Everything is important.

what a gift it is life!

Happy 2013 !!!! ( I will post climbing photos at another time :)