04 abril 2013

"Enchantment is the oldest form of Medicine" (relato)

my happy soul in Itatiaia - Rio de Janeiro

Esta afirmação do Carl Jung é uma das mais bonitas que já li.  Ela não faz sentido para muitos, mas, para mim, faz sentido absoluto, e ainda, traduz de maneira fiel a maneira que escolho os meus caminhos.

Assim como muitas outras pessoas pelo mundo afora, adotei também um estilo de vida que me permite praticar e exercitar a expansão de minha consciência além da superfície a qual a maioria das pessoas ao meu redor (na nossa sociedade) está habituado. Eu vejo uma nítida diferença e me sinto privilegiada por não fazer parte do grupo da maioria. No meu caso, optei passar mais ou menos 7 meses do ano imersa no mundo natural, muitas vezes com um pequeno grupo de pessoas em lugares remotos, longe de civilização. Convivendo com animais, clima adverso, acompanhando as fases da Lua, e acordando com o Sol, cuidando e deixando que outros e a natureza cuide de mim. Nos outros meses do ano eu escolho ir ainda mais além no exercício de expandir minha consciência. Eu trabalho com uma terapia de cura através de pressão em pontos musculares no corpo e respiração focada. Esta é uma atividade que a cada dia vem ganhando mais espaço na minha vida, porque tem se destacado como uma atividade transpessoal, está além do que a minha mente racional pode explicar. É um trabalho de liberação onde há um mútuo benefício entre as partes.



allowing Nature to heals us - Chilean Patagonia

O corpo é o nosso código mais intenso e a nossa memória mais arcaica. O corpo incorpora a vida. William Reich afirmou que "o corpo é o inconsciente visível". Eu sei que existe uma ressonância direta ocorrendo do meu estado de consciência no momento em que ajudo uma pessoa a acessar este inconsciente visível e sagrado, que é o corpo dela.



Bom, este estilo de vida que eu tenho não "caiu do céu". Ele é, certamente, abençoado, mas nem de longe é "cor-de-rosa". Antes de tudo isto acontecer foi preciso desapegar de um monte de coisas. Coisas boas também.

Escolhas. Eu fiz escolhas conscientes e, inicialmente, as consequências foram muito desagradáveis. Por que não dizer, dolorosas.
Foi o caminho que escolhi, porque desde muito nova eu entendi que a minha consciência é um presente. E também entendi, muito cedo, que este presente deve ser usado junto com a natureza. Aos 8 anos de idade eu já sabia ( em um nível de consciência mais profundo) o que era, essencialmente, importante para mim.


O que eu não entendo é a violência. Ontem, uma amiga me contou do caso da "van em Copacabana". Onde dois turistas americanos, um casal, tomou um transporte público, esta van. E que resultou em um estupro ( da mulher) por mais de 6 horas dentro da van. Como assim?! Isto é muito difícil de aceitar.

O Jung falou também de "Atrophy of Instinct", um grande sintoma patológico de nossa civilização moderna. O que é a ocasionado pela perda do contato com o mundo natural. Este é o viés que mais me convence na busca de um entendimento para tamanha desconexão com outro Ser, com o corpo de outra pessoa. A doença. Causada pela perda da conexão primordial. Nas palavras do meu colega ecopsicólogo Marco Bilibio "a degeneração do inconsciente ecológico". As pessoas vêm perdendo o olhar aberto, simples e natural de tudo e para com todos. Como se existisse parte das pessoas que estão fechados ao próprio movimento da vida.


É basicamente revoltante. Assusta. E é triste. Mas, eu somente confio no poder que tenho recebido da Vida através de minhas experiências pessoais de trocas neste mundo.  Sim, eu acredito que é necessário estender-se para fora do nosso corpo, senão não há relação. Acredito que a cura vem quando a gente consegue projetar a gente mesmo na natureza que está ao nosso redor. Integrar e permitir. Um poder que nenhum de nós deveria desviar-se.

Essa mesma idéia é também reforçada pelo poeta americano David Whyte quando fala sobre  "The Conversational Nature of Reality" : 

"There is no self that will survive to a real conversation, that will survive to meeting with other than yourself. And is in this moment when you meet something other than yourself that all kind of astonishing things happens".


Porque o corpo comunga, e a Vida necessita de comunhão e encantamento.

Nature letting to be healed - street @ Vila Madalena - São Paulo